quinta-feira, 18 de abril de 2019

Um post de afirmação e negação


Esse post é um misto de negação e afirmação. Negação porque me sinto muito velhinha tentando negar o desejo de escrever postagens narcísicas juvenis em uma tentativa desesperada de auto compreensão que ultrapassa os mecanismos naturais de defesa do ego. Afirmação porque escrever cria essa sensação confortante de existência subversiva ego-imersiva em que seus sentimentos não parecem desvanecer em meio à massa disforme da coletividade.
                Esse espaço é um quadro quase secreto, místico, íntimo. Em todos os impulsos de destruição dos meus rastros na internet esse é um dos poucos espaços em que não consigo atear fogo. É assustadoramente autêntico. Escapa das formatações de um “eu” limpinho e coerente, da tentação de reescrever o próprio passado e manipular a própria história. Vivo, pulsa em todas as cores das minhas contradições.
                Com a idade a necessidade de se definir vai definhando... Os últimos delírios e paranoias, as crises, as incompreensões, as recuperações e o aprendizado, passados em silêncio. Nenhum desejo de externar sequer uma palavra até hoje. Quebro um longo jejum. Tento em vão definir as razões por trás desse ato. Um ato comunicativo sem interlocutor, um manifesto lançado ao vento. Para mim, um registro que poderei rever rabiscado, pichado em um mural público. Transgressor como escrita em porta de banheiro. Incorporado à nuvem de pensamentos que inundam a web.
                É sentimento puro. Raiva. De quem se acha muito complexo pra ser definido em uma palavra, de quem se vê ferido por um olhar intimidado e simplista. Não vou tentar explicar um olhar intimidado. É um olhar justificado em si mesmo e na própria covardia. Como reagir a esse olhar? Devo fechar os olhos e fingir que não vi? Devo ignorar e sufocar minha raiva em auto piedade? Devo responder com um olhar severo? Não! Vou pintar minha raiva em um mural onde ficará exposta ao olhar e ao julgamento de qualquer transeunte. Um caleidoscópio de psicose delirante. Vou criar uma cornucópia recheada de decepção. Vou rasgar as minhas vestes, cobrir-me de cinzas e cantar um fado curioso e obscuro. Vou degradar minha razão e apertar minha loucura em beijos e abraços caprichosos.

sábado, 12 de julho de 2014

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Metafísica e música



Desde 2004 acompanhava os textos do Veritatis Splendor... Dez anos se passaram. Deveria ter me tornado uma flor do Carmelo, Kyrie eleisson.

O que dizer? Já conhecia o trabalho da Montfort e do saudoso professor Fedeli desde 2006, Kyrie eleisson. 

Ingênua entrei em uma dessas congregações modernas "reformadas" depois do Vaticano II e agora já não me lembro. Foram três anos, apesar da contaminação modernista os melhores anos da minha existência até hoje.

Reze pela minha alma.
Reze pela minha vocação.
Preciso de graça, força e coragem.

Se eu soubesse... Agora me resta: arrependimento eficaz e penitência. Christe eleisson.

sábado, 19 de abril de 2014

São Maximiliano Maria Kolbe



"Não se ponham em julgo desigual com descrentes. Pois o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas?" 2Cor 6, 14.

Tenho meditado, rezado e contemplado nessa Páscoa, graças à bondade e misericórdia infinita do meu Amado Esposo...

Semana passada em um momento incomum de dúvidas e tribulações tive de lidar com o desânimo, os apegos, falta de perdão, entre outras mesquinharias que me impedem de alçar vôos mais altos.

Pensei que sob influência de tais afetos não conseguiria aproveitar tão bem esse tempo propício de interiorização, que a preparação para a Páscoa (passagem do Senhor) proporciona.

De todo modo, fui como que retirada daquele estado de torpor o que tornou possível enxergar com mais clareza.

O Senhor me fez ver a malícia e maldade dos inimigos da cruz de Cristo e perscrutar suas intenções abomináveis.

Tenho aprendido com São Maximiliano Kolbe a ter paciência, fé, misericórdia e rogar à Santíssima Virgem pela conversão  desses que já não tramam às escondidas, mas falam e exibem abertamente a natureza de seus desígnios.

Possamos com a milícia da Imaculada dizer:
"Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós e por todos quantos não recorrem a Vós, especialmente pelos inimigos da Santa Igreja e por todos quantos são a Vós recomendados."


sábado, 22 de março de 2014

Vocacional – Carmelitas Eremitas de Atibaia

Beijo a Tua paixão que me liberta das minhas paixões
Beijo a Tua cruz que condena e esmaga o pecado em mim
Beijo Teus cravos, Tuas mãos que apagam o castigo do mal
Beijo Tua ferida que curou a ferida do meu coração
Eu Te beijo Senhor e a Tua paixão é o Meu Tudo!
És Meu Tudo, Jesus
Amado de minha alma
Oh, Belíssimo Esposo!
Mais belo que todos os homens!
Santo, santo és Tu!
Belíssimo Esposo!
Esconde-me em Teu lado aberto!
Em Tua chaga de Amor... de Amor!
Beijo a lança que abriu a fonte do Amor imortal, a
fonte do Amor sem fim
Que pagou o que eu não poderia pagar
Beijo o Teu lado aberto jorrando rios de vida e de
paz
Fazendo brotar em mim
Um canto novo, um hino esponsal
Beijo Tuas vestes que esconderam minhas misérias
Vergonha não há
Me adornas com Amor!

Beijo os lençóis que envolveram o Teu corpo ferido de
Amor
E cobriram meu coração
Revestiram-me de realeza
Beijo o Teu Santo Sepulcro
Testemunha da Ressurreição
Quero ressuscitar também
E encerrar-me dentro de Ti
Quero em Ti mergulhar
E então renascer na Tua chaga criadora
Descansar a minh'alma em Teu coração!



quarta-feira, 19 de março de 2014

Sobre a fraqueza perante o mistério – cartas – 1


Natanael a Lotar


Sem dúvida, estão todos preocupados por não lhes ter escrito durante tanto

tempo. Mamãe deve estar zangada, e Clara pode estar pensando que aqui

levo uma boa vida, esquecendo por completo sua querida imagem angelical,

tão profundamente gravada em meu coração e em minha mente. Mas não e

assim; todos os dias e a toda hora penso em vocês todos, e em doces

devaneios aparece a minha querida Clarinha sorrindo-me com seus olhos

tão graciosos, como de costume, quando estava junto a vocês. Ah, mas

como poderia escrever-lhes com o estado de espírito tão dilacerado, que

vem me confundindo todos os pensamentos! Algo de terrível aconteceu em

minha vida! Sombrios pressentimentos de um cruel e ameaçador destino

estendem-se sobre mim quais sombras de nuvens negras, impenetráveis a

qualquer benevolente raio de sol. Agora devo dizer-lhe o que me aconteceu.

Reconheço que é necessário fazê-lo, mas, só em pensar nisso, escapa-me um

riso de louco. Ah, meu caríssimo Lotar, como farei para que de alguma

forma você sinta que o que me sucedeu há alguns dias perturbou minha vida

de maneira tão terrível? Se ao menos você estivesse aqui, poderia ver com

seus próprios olhos; mas, tenho certeza, certamente vai me considerar um

supersticioso

visionário. Em suma, o terrível acontecimento em questão, de cuja fatal

influência em vão esforço-me por evitar, consiste simplesmente em que, há

alguns dias, exatamente no dia 30 de outubro, ao meio-dia, um vendedor de

barômetros entrou em meu quarto e me ofereceu seus instrumentos. Não

comprei nada e ameacei jogá-lo escada abaixo, mas ele então saiu

voluntariamente.

Você pode imaginar que somente circunstâncias bem particulares e

marcantes de minha existência são capazes de explicar o significado desse

incidente, e que a pessoa desse funesto caixeiro-viajante possa ter um efeito

pernicioso sobre mim. De fato, todo sangue-frio me é necessário para, com

calma e paciência, contar-lhe detalhes de minha infância, que permitirão a

sua mente vivaz compreender tudo de maneira límpida e transparente.

Agora, quando começo, tenho a impressão de ouvir o seu riso e as palavras

de Clara: "Tudo isso não passa de criancice!" Riam, por favor, riam muito

de mim! Peço-lhes encarecidamente! Mas Deus do céu! Meus cabelos

arrepiam-se, e é como se eu lhes implorasse, loucamente desesperado, para

que riam de mim, como Franz Moor fez a Daniel¹. Vamos aos fatos!

À exceção da hora do almoço, eu e meu irmão pouco víamos nosso pai

durante o dia. Ele talvez estivesse muito ocupado com os seus negócios.

Depois do jantar, que segundo o velho costume era servido às sete horas,

íamos todos, mamãe conosco, ao gabinete de papai e nos sentávamos em

torno de uma mesa redonda. Papai fumava seu tabaco e bebia um grande

copo de cerveja. Muitas vezes narrava-nos histórias maravilhosas, e

aquelas narrativas entusiasmavam-no tanto, que o seu cachimbo sempre se

apagava. Cabia a mim, segurando um papel em chamas, acendê-lo

novamente, o que consistia no meu principal divertimento. Freqüentemente

também, ele nos dava livros ilustrados, sentava-se mudo e inerte em sua

poltrona e expelia espessas nuvens de fumaça, de forma que todos nós

ficávamos como que envoltos na névoa. Em noites como essas mamãe ficava

muito triste e, mal soavam as nove horas, falava-nos: "E agora, crianças,

para a cama, para a cama! O Homem da Areia está chegando, já posso

ouvir seus passos." De fato, todas as vezes eu ouvia passadas pesadas e

lentas subindo a escada; devia ser o Homem da Areia. Certa vez, aquele

andar abafado causou-me uma impressão

particularmente aterradora. Perguntei a mamãe, enquanto ela nos levava:

"Mamãe! Quem é mesmo o malvado Homem da Areia que sempre nos separa

de papai? Como é ele?" "Não existe nenhum Homem da Areia, meu filho",

respondeu minha mãe. "Quando digo que o Homem da Areia está chegando,

isso quer dizer apenas que vocês estão com sono e não conseguem manter os

olhos abertos, como se alguém tivesse jogado areia neles." A resposta de

mamãe não me satisfez; em meu espírito infantil desenvolveu-se claramente a

idéia de que mamãe só negava a existência do Homem da Areia para que não

ficássemos amedrontados, pois eu ouvia quando ele subia pela escada.

Curioso em saber mais sobre aquele Homem da Areia e sua relação com

crianças como nós, finalmente perguntei à velha criada que cuidava de minha

irmã sobre que tipo de homem era aquele, o Homem da Areia.

"Natanaelzinho", respondeu ela, "você então não sabe? É um homem

malvado que aparece para as crianças quando elas não querem ir dormir e

joga-lhes punhados de areia nos olhos, de forma que estes saltam do rosto

sangrando; depois ele os mergulha num saco e carrega-os para a Lua, para

alimentar os seus rebentos. Eles ficam lá, empoleirados em seu ninho e, com

o bico recurvado como o das corujas, bicam os olhos das criancinhas

travessas ". Aterrorizado, a partir de então considerei o Homem da Areia sob

um aspecto noturno. A noite, bastava ouvir o ruído de passos na escada para

tremer de medo e horror Mamãe só conseguia arrancar de mim o grito entre

lágrimas: "O Homem da Areia! O Homem da Areia! ", depois eu corria para

o quarto, e durante a noite toda atormentava-me a temível imagem do

Homem da Areia.

Eu já estava crescido o suficiente para compreender que aquela história

contada pela ama-seca sobre o Homem da Areia e o seu ninho com crianças

na Lua realmente não podia estar lá muito correta; todavia, o Homem da

Areia continuava sendo para mim um terrível fantasma, e o terror me

arrebatava quando o ouvia não apenas subir as escadas, como também abrir

e entrar violentamente no gabinete de meu pai. As vezes passava muito tempo

sem aparecer; depois vinha muitas vezes consecutivas. Isso durou anos, e não

pude me acostumar à sinistra assombração — a figura aterrorizante do

Homem da Areia não saía da minha cabeça. Suas relações com meu pai

passaram a ocupar cada vez mais a minha imaginação, e um medo

insuperável impedia-me de interrogá-lo sobre o assunto, mas, com os anos,

sedimentou-se e germinou em mim a vontade de investigar o mistério, de ver

o fabuloso

Homem da Areia. Ele me conduzira para o caminho do maravilhoso, do

romanesco, que com muita facilidade instala-se na alma infantil. Nada me

agradava mais do que ouvir ou ler aterrorizantes histórias de duendes,

bruxas e anões. Mas em primeiro lugar estava sempre o Homem da Areia,

que eu desenhava com giz ou carvão, da forma mais estranha e abominável,

em mesas, armários e paredes.

Quando fiz dez anos, minha mãe mudou-me do quarto de crianças para um

pequeno aposento que dava para um corredor não muito distante do gabinete

de papai. Mal batiam as nove horas e ouvíamos o desconhecido entrar,

éramos obrigados a nos retirar rapidamente. Em meu quartinho, percebia

quando ele entrava no gabinete de papai, e logo em seguida tinha a

impressão de que se espalhava pela casa um vapor suave e de raro odor Com

minha curiosidade, cada vez mais ardia o desejo de, com coragem e

determinação, travar conhecimento com o Homem da Areia. Muitas vezes,

quando mamãe já havia passado, eu saía rapidamente do quartinho para o

corredor, mas nada podia escutar, pois o Homem da Areia sempre havia

ultrapassado a porta, quando eu chegava ao local de onde ele poderia ser

visto. Levado por um irresistível impulso, decidi esconder-me no gabinete de

papai e esperar o Homem da Areia.

Certa noite, pelo silêncio de papai, pela tristeza de mamãe, percebi que o

Homem da Areia viria. Dei como pretexto um grande cansaço, deixei a sala

antes das nove e me escondi bem junto à porta do gabinete, num cantinho. A

porta da casa rangeu, e passos lentos, pesados e ruidosos atravessaram o

corredor em direção à escada. Mamãe passou por mim apressadamente, com

meus irmãos. Suavemente, bem suavemente, abri a porta do aposento de meu

pai. Corno de costume, ele estava sentado com as costas voltadas para a

porta; calado e imóvel, não percebeu minha presença, e rapidamente entrei e

me escondi atrás da cortina que cobria um armário aberto ao lado da porta,

onde estavam penduradas roupas de meu pai.

Os passos aproximaram-se mais e mais. Do lado de fora, ouviam-se

estranhas tosses, pigarros e um enigmático murmúrio. Meu coração pulsava

forte, de medo e ansiedade. Perto, bem perto da porta, um passo mais nítido,

um golpe violento no trinco, e a porta se abre com violência! Forçando-me a

tomar coragem, ponho cuidadosamente a cabeça para fora. O Homem da

Areia está no meio do gabinete e diante de meu pai, o brilho claro das velas

ilumina o seu rosto! O Homem da Areia, o

terrível Homem da Areia, é o velho advogado Coppelius, que às vezes almoça

em nossa casa!

Porém, a mais aterrorizante figura não me teria provocado tanto horror

quanto aquele Coppelius. Imagine um homem grande, de ombros largos, com

uma cabeça disforme e grande, rosto amarelecido, sobrancelhas fartas e

grisalhas, sob as quais faiscava um par de olhos de gato, esverdeados e

penetrantes, e um nariz gigantesco sobre o lábio superior. A bocarra

retorcia-se com freqüência num riso malicioso, tornando visíveis manchas

vermelhas nas bochechas. Um chiado estranho atravessava seus dentes

cerrados.

Coppelius sempre aparecia num sobretudo cinzento de corte antigo, com o

colete e a calça semelhantes, mas de meias pretas e sapatos com pequenas

fivelas enfeitadas com pedraria. A pequena peruca mal lhe cobria o cocuruto,

dois cachos postiços estavam colados acima das grandes e vermelhas

orelhas, e um grande coque afastava-se da nuca, de forma que se via a fivela

prateada que fechava o colarinho pregueado. A figura no conjunto era

medonha e abjeta; mas para nós, crianças, o que nos chocava mais eram suas

grandes mãos, ossudas e peludas, tanto que evitávamos pegar no que

tocavam. Ele notara essa repugnância, e então se divertia em bolinar com as

mãos, sob esse ou aquele pretexto, um pedaço de bolo ou uma fruta que a boa

mamãe deixara furtivamente em nosso prato. Nós, com lágrimas nos olhos,

não conseguíamos mais desfrutar; por nojo e aversão, as gulodices antes

destinadas ao nosso prazer. A mesma coisa ele fazia em dias de festa, quando

papai nos servia um pequeno cálice de vinho doce. Rapidamente, ele passava

a mão em sua borda ou levava o cálice aos lábios azulados, rindo

diabolicamente quando percebia que nos era permitido manifestar nossa

irritação baixinho, aos soluços. Tinha por hábito nos chamar de "pequenas

bestas". Não podíamos abrir a boca em sua presença e amaldiçoávamos

aquele homem feio e hostil que conseguia estragar propositadamente a menor

de nossas alegrias. Mamãe, como nós, parecia odiar o repugnante Coppelius;

pois, quando ele aparecia, sua jovialidade, seu jeito de ser alegre e

despreocupado transformava-se numa gravidade triste e sombria. Papai

comportava-se como se fosse ele um ser superior, com cujos maus costumes

devia-se ter paciência e conservar bom humor Bastava uma sutil sugestão

sua, e preparavam-se seus pratos prediletos, que eram acompanhados de

vinhos raros, abertos em sua homenagem.

Quando vi o tal Coppelius, a verdade se me revelou terrível e ameaçadora:

ninguém senão ele poderia ser o Homem da Areia! Mas o Homem da Areia

não era mais para mim aquele espantalho das histórias da carochinha, que

vai arrancar os olhos das criancinhas para servir de alimento a sua ninhada

de corujas na Lua. Não! Era um monstro fantasmagórico que carregava

consigo, aonde fosse, aflição, miséria e ruína eternas.

Eu estava enfeitiçado. Frente ao perigo de ser descoberto e, como eu

pensava, duramente castigado, continuei ali, ouvindo tudo com a cabeça para

fora da cortina. Meu pai recebeu Coppelius cerimoniosamente.

"Ao trabalho", exclamou este, com uma voz rouca e rascante, desembaraçando-

se do sobretudo. Calma e sombriamente, papai tirou seu roupão, e

ambos vestiram longas túnicas negras. Não percebi de onde as haviam tirado.

Meu pai abriu as portas de um armário, e então constatei que aquilo que eu

sempre pensara ser um armário era na verdade um nicho profundo, onde

estava um pequeno fogão. Coppelius aproximou-se, e uma chama azul ardeu.

Havia ali todo tipo de aparelhos estranhos. Ah. Deus! Ao inclinar-se em

direção ao fogo, meu pai parecia outro. Uma dor cruel e convulsiva parecia

metamorfosear seus traços na mais horrenda e repugnante imagem diabólica.

Ele se assemelhava a Coppelius! Este brandia tenazes incandescentes e com

elas retirava da fumaça densa massas claras e cintilantes, que depois

martelava com violência.

Tive a sensação de que rostos humanos tornaram-se visíveis a sua volta,

mas não tinham olhos — ao invés deles, profundas e horrendas cavidades

negras. "Que venham os olhos, que venham os olhos!", gritou Coppelius com

uma voz surda e ameaçadora. Completamente aterrado, soltei um berro e,

saindo de meu esconderijo, caí no chão. "Pequena besta! Pequena bestar,

rosnou ele, rangendo os dentes. Subitamente me ergueu e jogou-me sobre o

fogão, de maneira que as chamas começaram a chamuscar meu cabelo:

"Agora temos olhos — olhos —, um lindo par de olhos infantis." Foi o que

murmurou Coppelius, pegando com as mãos um punhado de brasas

incandescentes para atirar em meus olhos, enquanto meu pai implorava,

erguendo as mãos e gritando: "Mestre! Mestre! Deixe os olhos de meu

Natanael — deixe-os com ele!" Coppelius gargalhou estridentemente: "Que o

rapazinho conserve os seus olhos para choramingar sua sina pelo mundo!

Mas agora vamos observar atentamente o mecanismo das mãos e dos pés."

Com isso,

pegou-me com tanta violência que minhas articulações estalaram, girando

minhas mãos e meus pés e recolocando-os ora aqui, ora acolá. "Não ficam

bem em lugar nenhum! E melhor deixar como estavam. O velho lá de cima

entendia bem do riscado!" Assim Coppelius silvava e ciciava; mas tudo a

minha volta tornou-se negro, escuro, uma súbita convulsão percorreu meus

nervos e ossos — eu não sentia mais nada. Um sopro suave e morno passou

pelo meu rosto e despertei como de um sono de morte. Mamãe estava

inclinada sobre mim. "O Homem da Areia ainda está aí?", balbuciei. "Não,

filhinho, já foi há muito, muito tempo, e não lhe fará mal!" Assim falou

mamãe, beijando e acariciando o filho predileto, já restabelecido.

Por que fatigar-lhe tanto, meu caro Lotar, contando-lhe todos esses

detalhes, se tanta coisa importante ainda tenho a dizer? Em suma, fui

descoberto enquanto espiava e cruelmente maltratado por Coppelius. Medo e

susto causaram-me uma febre escaldante, e fiquei doente por várias semanas.

"O Homem da Areia ainda está aí?" Estas foram as minhas primeiras

palavras concatenadas e o sinal de minha recuperação, de minha salvação.

Devo contar-lhe ainda o mais terrível momento de meus anos de infância;

então ficará convencido de que não é culpa de meus olhos se agora tudo me

parece descolorido, mas que realmente uma fatalidade cobriu minha vida

com um denso véu de nuvens, que só com minha morte, talvez, se dissipará.

Coppelius não apareceu mais. Dizia-se que deixara a cidade.

Mais ou menos um ano depois, estávamos sentados à noite em torno da

mesa redonda, segundo o velho e imutável costume. Papai estava muito

alegre e contava histórias divertidas das viagens que fizera na juventude. Foi

quando de repente ouvimos, às nove horas, os gonzos da porta soar, e passos

lentos e pesados como ferro avançaram em direção à escada. "É Coppelius",

disse minha mãe, empalidecendo. "Sim, é Coppelius", repetiu meu pai com

voz frágil e hesitante. Lágrimas rolaram dos olhos de minha mãe. "Meu

amigo, meu amigo!", exclamou ela, "precisa ser assim?" "Pela última vez!",

ele respondeu, "pela última vez ele virá aqui, eu juro. Agora vá, vá com as

crianças! Vão para a cama! Boa noite!"

Eu estava como que petrificado, minha respiração vacilava! Vendome

imóvel, mamãe pegou-me pelo braço. "Venha. Natanael, venha!" Deixei-me

levar e entrei no meu quarto. "Acalme-se, acalme-se; vou pô-lo na cama.

Durma, durma", pediu minha mãe. Porém, torturado pela

angústia e presa de profunda inquietação, não consegui fechar os olhos. O

odioso e repugnante Coppelius surgia a minha frente com olhos faiscantes e

sorria hipocritamente. Em vão, tentei livrar-me de sua imagem. Já deveria

ser meia-noite quando se ouviu um temível barulho, como se uma artilharia

houvesse começado a disparar Toda a casa estremeceu, perto da porta de

meu quarto passaram ruídos e rumores e então a porta da frente bateu

ruidosamente. "É Coppelius!", gritei assustado, e saltei da cama. Então ouvi

um lamento dilacerante e inconsolável e precipitei-me para o gabinete de

meu pai; a porta estava aberta, um vapor sufocante se fez sentir, enquanto a

criada gritava: "Ah, patrão, ah, patrão!" Diante do fogão fumegante, no

chão, encontrava-se meu pai, morto, com o rosto terrivelmente desfigurado e

queimado, e ao seu redor choravam e gemiam minhas irmãs; mamãe a seu

lado, desmaiada! "Coppelius, maldito Satã, você matou meu pai! ", foi assim

que gritei, perdendo os sentidos. Dois dias depois, quando foi colocado no

caixão, seus traços voltaram a ser suaves e tranqüilos, como em vida. O que

foi um consolo, pois imaginara em meu espírito que o seu pacto com o

diabólico Coppelius poderia condená-lo à danação eterna.

A explosão havia acordado os vizinhos. O acontecimento tornou-se público

e chegou às autoridades, que queriam intimar Coppelius como responsável

pelo fato. Este, porém, havia desaparecido sem deixar pistas.

Se lhe disser, caro amigo, que aquele vendedor de barômetros era

justamente o maldito Coppelius, você compreenderá por que interpreto sua

hostil aparição como presságio de uma terrível desgraça. Usava outras

roupas, mas a figura de Coppelius e os traços do rosto estão de tal modo

impregnados em minha memória que não pude deixar de reconhecê-lo. Além

disso, ele nem ao menos trocou de nome. Faz-se passar agora, como ouvi

dizer, por um mecânico piemontês e se denomina Giuseppe Coppola.

Estou decidido a enfrentá-lo e vingar a morte de meu pai, aconteça o que

acontecer.

Não conte nada a mamãe sobre a aparição desse monstro cruel. Dê

lembranças a minha encantadora Clara; escreverei a ela com mais calma.

Saudações etc. etc.

Sobre a felicidade e/ou o " fim" último do homem: Crítica à filosofia oriental

Nas ações humanas, tudo o que vai contra a razão é vicioso.
Tomás de Aquino


Desde Agostinho as especulações metafísicas, filosóficas e teológicas voltaram-se para o problema da existência do mal e da finalidade da existência humana. Durante a juventude, conforme ele mesmo relata em "Confissões", Agostinho foi profundamente influenciado pelo pensamento dos Maniqueus, concluindo conforme os preceitos dessa seita, que a matéria é má.

"Os Maniqueus foram fundados no século III pelo profeta persa Mani, o qual acreditava que lhe fora concedida revelação direta da natureza de Deus e do Universo. Seu ensinamento exerceu tanta atração em seus contemporâneos em muitas regiões do Império Romano e para além deste, circunscreveu tão convincentemente os fios da tradição gnóstica existente, e tão vasta foi a influência, que pelo século VIII abrangia até a China".

Ai de ti helenismo, ai de ti filosofia oriental! Quantos se perdem por seus desatinos...

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ausência

Escrevo no limiar entre o querer e o não querer. Dessa vez prevaleceu o querer, por isso escrevo... Entre mil sentimentos, coisas que eu gostaria de dizer e não disse, coisas que seriam melhores se não ditas, coisas que sinto e preferia não sentir, coisas disformes por isso inexprimíveis.

Escrevo por mim e para mim (para o que me pertence até o ponto em que é suportável enxergar). Prefiro não pensar em consequências fáticas, lógicas ou hipotéticas, prefiro não pensar nos “porquês”. Apenas escrevo para me expressar (é possível?), ou melhor, tentar expressar uma parte de mim que agoniza e parte para longe. Jogar com as palavras me aventurando no clichê cafona de tentar “expressar o inexpressível”.

Paradoxal? Ambíguo? Me defino no espaço entre o risco e o contraditório tentando compreender essas contradições essenciais que me definem. Escrevo no fluxo, sei que o enigma permanece. As coisas não se desvelam para mim, confusas ainda, dispersas...

Dentro de mim lembranças, sonhos, desejos, anseios, memórias, saudades... Daquilo que foi e, para mim, ainda é (me pergunto se algum dia deixará de ser). Entre a certeza do hoje e a sombra do ontem minha razão vacila e o jeito é viver o dia de hoje sem pensar no ontem nem no amanhã. Só por hoje, só por hoje... 

Passaram os momentos, os questionamentos permanecem: evasivos/invasivos. Perguntas encerradas na ausência de respostas, encerradas no eco desse silêncio sepulcral. Ausência. Viver é sentir ausência? Pra mim há tempos tem sido. É o barulho ensurdecedor do silêncio: uma resposta brutalmente clara. Tão clara, tão óbvia, tão escancarada, tão verdadeira que esvai qualquer possibilidade de autoengano (traiçoeira ilusão desfaz-se). Ou seja, agonia envolta em súplica: — Estúpida ilusão que ainda vagueia em meus devaneios, por favor, me deixe!

terça-feira, 11 de junho de 2013

Apologética + filosofia = Lucidez

Hoje, em mais um episódio daquele hábito cultivado desde sempre, (guia e base para minha busca: questionar, ler, duvidar, duvidar outra vez, ler outra vez, convencer-me de minha ignorância e limitação, desconfiar de tudo e confiar apenas na doutrina e nas palavras de Jesus no Evangelho:"Tu es Petrus et super hanc petram ædificabo ecclesiam meam et portæ inferi non prævalebunt adversus eam. Et tibi dabo claves regni cælorum.") encontrei sabedoria e verdade na página que vou recomendar agora.

A leitura é um prazer, a filosofia uma velha amiga, a metafísica uma aliada desprezada por muitos e a teologia um alento precioso para qualquer alma inquieta (nesse caso, particularmente para a minha). Na vida são as melhores companheiras em quase todas as ocasiões, principalmente quando somos convidados/instigados/inspirados a fazer uso de nossas faculdades mentais utilizando lógica e argumentos válidos.

Não, queridos leitores, não pretendo convencê-los (duvido de qualquer um que tenha essa pretensão, especialmente dos "iluminados" de plantão) da minha erudição, inteligência, posse da verdade, superioridade intelectual, superioridade espiritual, santidade, heroísmo, etc... Meu objetivo é outro. Penso que a dúvida é o princípio de qualquer esforço racional, por isso, aprenda a questionar, caro leitor, quanto mais questionar menos saberá e mais da própria ignorância conhecerá (hahahaha, rima podre/pobre/irônica.)

Então, queridos leitores, espero que vocês também (como pessoas cultas que sei que são) sejam capazes de reconhecer a própria ignorância, afinal, somos humanos e perfeito só Deus (eu acredito nisso, quanto ao caro leitor, compreendo que possa pensar de modo diverso).

Há algum tempo a arrogância de alguns "iluminados" espalhados por aí tem sido objeto da minha reflexão. Não sei se é má vontade, ignorância ou simplesmente complexo de inferioridade... Fazer o quê? Esses "iluminados" têm conteúdos lunáticos de sobra em que se inspirar (arianismo, destino manifesto, relativismo, marxismo/materialismo, resumindo: fanatismo). 

Quem não conhece um religioso fanático precisa conhecer um iluminado: patético em sua pretensa racionalidade.  Aos "iluminados" de boa-fé deixo a referência para a autocrítica: http://falhasespiritismo.org/category/cristianismo-primitivo/. Talvez suas luzes não sejam tão superiores assim, caros iluminados... E aos leitores fica o convite para alguns questionamentos interessantes.

Recomendo: http://falhasespiritismo.org/category/cristianismo-primitivo/ Já que não sou capaz da solidez intelectual do autor desses artigos.



domingo, 26 de maio de 2013

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Amor humano, amor divino e virgindade em Tomás de Aquino

Prima secundae pars

Quaestio XXVII


Articulus 4

Utrum aliqua alia animae passionum

Iª-IIae q. 27 a. 4 arg. 1 Ad quartum sic proceditur. Videtur quod aliqua alia passio possit esse causa amoris. Dicit enim philosophus, in VIII Ethic., quod aliqui amantur propter delectationem. Sed delectatio est passio quaedam. Ergo aliqua alia passio est causa amoris.

Iª-IIae q. 27 a. 4 arg. 2 Praeterea, desiderium quaedam passio est. Sed aliquos amamus propter desiderium alicuius quod ab eis expectamus, sicut apparet in omni amicitia quae est propter utilitatem. Ergo aliqua alia passio est causa amoris.

Iª-IIae q. 27 a. 4 arg. 3 Praeterea, Augustinus dicit, in X de Trin., cuius rei adipiscendae spem quisque non gerit, aut tepide amat, aut omnino non amat, quamvis quam pulchra sit videat. Ergo spes etiam est causa amoris.

Iª-IIae q. 27 a. 4 s. c. Sed contra est quod omnes aliae affectiones animi ex amore causantur, ut Augustinus dicit, XIV de Civ. Dei.

Iª-IIae q. 27 a. 4 co. Respondeo dicendum quod nulla alia passio animae est quae non praesupponat aliquem amorem. Cuius ratio est quia omnis alia passio animae vel importat motum ad aliquid, vel quietem in aliquo. Omnis autem motus in aliquid, vel quies in aliquo, ex aliqua connaturalitate vel coaptatione procedit, quae pertinet ad rationem amoris. Unde impossibile est quod aliqua alia passio animae sit causa universaliter omnis amoris. Contingit tamen aliquam aliam passionem esse causam amoris alicuius, sicut etiam unum bonum est causa alterius.

Iª-IIae q. 27 a. 4 ad 1 Ad primum ergo dicendum quod, cum aliquis amat aliquid propter delectationem, amor quidem ille causatur ex delectatione, sed delectatio illa iterum causatur ex alio amore praecedente; nullus enim delectatur nisi in re aliquo modo amata.

Iª-IIae q. 27 a. 4 ad 2 Ad secundum dicendum quod desiderium rei alicuius semper praesupponit amorem illius rei. Sed desiderium alicuius rei potest esse causa ut res alia ametur, sicut qui desiderat pecuniam, amat propter hoc eum a quo pecuniam recipit.

Iª-IIae q. 27 a. 4 ad 3 Ad tertium dicendum quod spes causat vel auget amorem, et ratione delectationis, quia delectationem causat, et etiam ratione desiderii, quia spes desiderium fortificat, non enim ita intense desideramus quae non speramus. Sed tamen et ipsa spes est alicuius boni amati.

Prima secundae pars

Quaestio XXVIII

Articulus 6

Utrum amor sit causa omnium quae amans agit

Iª-IIae q. 28 a. 6 arg. 1 Ad sextum sic proceditur. Videtur quod amans non agat omnia ex amore. Amor enim quaedam passio est, ut supra dictum est. Sed non omnia quae agit homo, agit ex passione, sed quaedam agit ex electione, et quaedam ex ignorantia, ut dicitur in V Ethic. Ergo non omnia quae homo agit, agit ex amore.

Iª-IIae q. 28 a. 6 arg. 2 Praeterea, appetitus est principium motus et actionis in omnibus animalibus, ut patet in III de anima. Si igitur omnia quae quis agit, agit ex amore, aliae passiones appetitivae partis erunt superfluae.

Iª-IIae q. 28 a. 6 arg. 3 Praeterea, nihil causatur simul a contrariis causis. Sed quaedam fiunt ex odio. Non ergo omnia sunt ex amore.

Iª-IIae q. 28 a. 6 s. c. Sed contra est quod Dionysius dicit, IV cap. de Div. Nom., quod propter amorem boni omnia agunt quaecumque agunt.

Iª-IIae q. 28 a. 6 co. Respondeo dicendum quod omne agens agit propter finem aliquem, ut supra dictum est. Finis autem est bonum desideratum et amatum unicuique. Unde manifestum est quod omne agens, quodcumque sit, agit quamcumque actionem ex aliquo amore.

Iª-IIae q. 28 a. 6 ad 1 Ad primum ergo dicendum quod obiectio illa procedit de amore qui est passio in appetitu sensitivo existens. Nos autem loquimur nunc de amore communiter accepto, prout comprehendit sub se amorem intellectualem, rationalem, animalem, naturalem, sic enim Dionysius loquitur de amore in IV cap. de Div. Nom.

Iª-IIae q. 28 a. 6 ad 2 Ad secundum dicendum quod ex amore, sicut iam dictum est, causantur et desiderium et tristitia et delectatio, et per consequens omnes aliae passiones. Unde omnis actio quae procedit ex quacumque passione, procedit etiam ex amore, sicut ex prima causa. Unde non superfluunt aliae passiones, quae sunt causae proximae.

Iª-IIae q. 28 a. 6 ad 3 Ad tertium dicendum quod odium etiam ex amore causatur, sicut infra dicetur.

Secunda secundae pars

Quaestio LXIV

Articulus 5

Utrum convenienter praecipiatur ut Deus ex toto corde diligatur, addatur ex tota mente et cetera

 
IIª-IIae q. 44 a. 5 arg. 1 Ad quintum sic proceditur. Videtur quod inconvenienter, Deut. VI, super hoc quod dicitur, diliges dominum Deum tuum ex toto corde tuo, addatur, et ex tota anima tua et ex tota fortitudine tua. Non enim accipitur hic cor pro membro corporali, quia diligere Deum non est corporis actus. Oportet igitur quod cor accipiatur spiritualiter. Cor autem spiritualiter acceptum vel est ipsa anima vel aliquid animae. Superfluum igitur fuit utrumque ponere.

IIª-IIae q. 44 a. 5 arg. 2 Praeterea, fortitudo hominis praecipue dependet ex corde, sive spiritualiter hoc accipiatur, sive corporaliter. Ergo postquam dixerat, diliges dominum Deum tuum ex toto corde tuo, superfluum fuit addere, ex tota fortitudine tua.

 IIª-IIae q. 44 a. 5 arg. 3 Praeterea, Matth. XXII dicitur, in tota mente tua, quod hic non ponitur. Ergo videtur quod inconvenienter hoc praeceptum detur Deut. VI.

IIª-IIae q. 44 a. 5 s. c. Sed contra est auctoritas Scripturae.

IIª-IIae q. 44 a. 5 co. Respondeo dicendum quod hoc praeceptum diversimode invenitur traditum in diversis locis. Nam sicut dictum est, Deut. VI ponuntur tria, scilicet ex toto corde, et ex tota anima, et ex tota fortitudine. Matth. XXII ponuntur duo horum, scilicet ex toto corde et in tota anima, et omittitur ex tota fortitudine, sed additur in tota mente. Sed Marc. XII ponuntur quatuor, scilicet ex toto corde, et ex tota anima, et ex tota mente, et ex tota virtute, quae est idem fortitudini. Et haec etiam quatuor tanguntur Luc. X, nam loco fortitudinis seu virtutis ponitur ex omnibus viribus tuis. Et ideo horum quatuor est ratio assignanda, nam quod alicubi unum horum omittitur, hoc est quia unum intelligitur ex aliis. Est igitur considerandum quod dilectio est actus voluntatis, quae hic significatur per cor, nam sicut cor corporale est principium omnium corporalium motuum, ita etiam voluntas, et maxime quantum ad intentionem finis ultimi, quod est obiectum caritatis, est principium omnium spiritualium motuum. Tria autem sunt principia factuum quae moventur a voluntate, scilicet intellectus, qui significatur per mentem; vis appetitiva inferior, quae significatur per animam; et vis executiva exterior, quae significatur per fortitudinem seu virtutem sive vires. Praecipitur ergo nobis ut tota nostra intentio feratur in Deum, quod est ex toto corde; et quod intellectus noster subdatur Deo, quod est ex tota mente; et quod appetitus noster reguletur secundum Deum, quod est ex tota anima; et quod exterior actus noster obediat Deo, quod est ex tota fortitudine vel virtute vel viribus Deum diligere. Chrysostomus tamen, super Matth., accipit e contrario cor et animam quam dictum sit. Augustinus vero, in I de Doct. Christ., refert cor ad cogitationes, et animam ad vitam, mentem ad intellectum. Quidam autem dicunt, ex toto corde, idest intellectu; anima, idest voluntate; mente, idest memoria. Vel, secundum Gregorium Nyssenum, per cor significat animam vegetabilem, per animam sensitivam, per mentem intellectivam, quia hoc quod nutrimur, sentimus et intelligimus, debemus ad Deum referre.

IIª-IIae q. 44 a. 5 ad arg. Et per hoc patet responsio ad obiecta.


Secunda secundae pars

Quaestio CLII

Articulus 5

De virginitate excellentia eius respectu aliarum virtutum

IIª-IIae, q. 152 a. 5 arg. 1 Ad quintum sic proceditur. Videtur quod virginitas sit maxima virtutum. Dicit enim Cyprianus, in libro de Virginit., nunc nobis ad virgines sermo est. Quarum quo sublimior gloria est, maior et cura. Flos est ille ecclesiastici germinis, decus atque ornamentum gratiae spiritualis, illustrior portio gregis Christi.

IIª-IIae, q. 152 a. 5 arg. 2 Praeterea, maius praemium debetur maiori virtuti. Sed virginitati debetur maximum praemium, scilicet fructus centesimus, ut patet Matth. XIII, in Glossa. Ergo virginitas est maxima virtutum.

IIª-IIae, q. 152 a. 5 arg. 3 Praeterea, tanto aliqua virtus est maior, quanto per eam magis aliquis Christo conformatur. Sed maxime aliquis conformatur Christo per virginitatem, dicitur enim Apoc. XIV de virginibus, quod sequuntur agnum quocumque ierit, et quod cantant canticum novum, quod nemo alius poterat dicere. Ergo virginitas est maxima virtutum.

IIª-IIae, q. 152 a. 5 s. c. Sed contra est quod Augustinus dicit, in libro de Virginit., nemo, quantum puto, ausus fuit virginitatem praeferre monasterio. Et in eodem libro dicit, praeclarissimum testimonium perhibet ecclesiastica auctoritas, in qua fidelibus notum est quo loco martyres, et quo defunctae sanctimoniales ad altaris sacramenta recitentur. Per quod datur intelligi quod martyrium virginitati praefertur, et similiter monasterii status.

IIª-IIae, q. 152 a. 5 co. Respondeo dicendum quod aliquid potest dici excellentissimum dupliciter. Uno modo, in aliquo genere. Et sic virginitas est excellentissima, scilicet in genere castitatis, transcendit enim et castitatem vidualem et coniugalem. Et quia castitati antonomastice attribuitur decor, ideo virginitati per consequens attribuitur excellentissima pulchritudo. Unde et Ambrosius dicit, in libro de Virginit., pulchritudinem quis potest maiorem aestimare decore virginis, quae amatur a rege, probatur a iudice, dedicatur domino, consecratur Deo? Alio modo potest dici aliquid excellentissimum simpliciter. Et sic virginitas non est excellentissima virtutum. Semper enim finis excellit id quod est ad finem, et quanto aliquid efficacius ordinatur ad finem, tanto melius est. Finis autem ex quo virginitas laudabilis redditur, est vacare rebus divinis, ut dictum est. Unde ipsae virtutes theologicae, et etiam virtus religionis, quarum actus est ipsa occupatio circa res divinas, praeferuntur virginitati. Similiter etiam vehementius operantur ad hoc quod inhaereant Deo martyres, qui ad hoc postponunt propriam vitam; et viventes in monasteriis, qui ad hoc postponunt propriam voluntatem et omnia quae possunt habere; quam virgines, quae ad hoc postponunt venereas voluptates. Et ideo virginitas non simpliciter est maxima virtutum.

IIª-IIae, q. 152 a. 5 ad 1 Ad primum ergo dicendum quod virgines sunt illustrior portio gregis Christi, et est earum sublimior gloria, per comparationem ad viduas et coniugatas.

IIª-IIae, q. 152 a. 5 ad 2 Ad secundum dicendum quod centesimus fructus attribuitur virginitati, secundum Hieronymum, propter excellentiam quam habet ad viduitatem, cui attribuitur sexagesimus, et ad matrimonium, cui attribuitur tricesimus. Sed sicut Augustinus dicit, in libro de quaest. Evang., centesimus fructus est martyrum, sexagesimus virginum, et tricesimus coniugatorum. Unde ex hoc non sequitur quod virginitas sit simpliciter maxima omnium virtutum, sed solum aliis gradibus castitatis.

IIª-IIae, q. 152 a. 5 ad 3 Ad tertium dicendum quod virgines sequuntur agnum quocumque ierit quia imitantur Christum non solum in integritate mentis, sed etiam in integritate carnis, ut Augustinus dicit, in libro de Virginit. Et ideo in pluribus sequuntur agnum. Non tamen oportet quod magis de propinquo, quia aliae virtutes faciunt propinquius inhaerere Deo per imitationem mentis. Canticum autem novum quod solae virgines cantant, est gaudium quod habent de integritate carnis servata.


domingo, 21 de abril de 2013

Depois

Depois de sonhar tantos anos,
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós
Depois de tantos desenganos,
Nós nos abandonamos como tantos casais
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois de varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão
Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar
Quero que você seja melhor
Hei de ser melhor também
Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar
Foi bom
Nós fizemos histórias
Pra ficar na memória
E nos acompanhar
Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também
Depois de aceitarmos os fatos
Vou trocar seus retratos pelos de um outro alguém
Meu bem
Vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair mais ninguém
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois